Recensão



Depois de uma análise atenta e cuidada ao artigo em estudo, no qual se procura sistematizar (figurativamente) a evolução do conceito “Tecnologia Educativa”, importa explorar, ainda que brevemente, algumas dimensões, que subjazem o referido documento.
Em primeiro lugar, vivemos num mundo tecnológico, donde não é possível pensar na Educação fora deste contexto. Por outro lado, a Educação está no centro de um conjunto de forças (homem, sociedade, cultura e comunicação). Dito de modo muito simples o homem está inserido numa sociedade, que por sua vez se manifesta através de uma cultura, a qual se exprime através da comunicação. De igual modo, não é possível pensar na Educação sem a comunicação, isto é, o fenómeno educativo dá-se quando a comunicação se desenvolve de acordo com todas as suas potencialidades, ou seja, quando o educando realiza o encontro (comunicação) com o conhecimento (Titone). Importa ainda acrescentar que a relação entre o homem e o seu ambiente foi sempre trespassada pela técnica. Desde cedo, o ser humano viu-se na necessidade de desenvolver mecanismos de subsistência e protecção. A sua natureza inteligente permitiu-lhe transformar pela téchne, a realidade natural em uma realidade artificial. É a técnica que vai mudando esta relação, servindo como prótese e extensão do próprio ser humano (a primeira prótese foi a roda, como extensão dos pés).
Se recorrermos à origem etimológica da palavra tecnologia, verifica-se que vem do grego téchne (arte, oficio) e logos (estudo de, palavra, fala). A téchne não era uma habilidade qualquer, mas aquela que seguia certas regras, dai o termo ter sido usado como oficio. Deste modo, este conceito acarreta a aplicação de uma série de regras, através das quais se chega a atingir algo (daí existir uma téchne da navegação – “arte de navegar”; uma téchne do ensino – “arte de ensinar”). Este saber técnico apesar do auxílio que trouxe na conquista da natureza, era desconsiderado em importância e prestígio em favor do saber intelectual. Mas esta separação foi-se diluindo até à sua união dando origem à ciência moderna (baseada na reflexão e na experimentação).
Deste modo a técnica deixou de ser entendida como um instrumento ou procedimento para passar a ser considerada como o “conhecimento sobre o procedimento”, de tal modo que hoje em dia, falar de técnica é sinónimo de “ciência aplicada ou conhecimento aplicado”. Esta reflexão teórica sobre a técnica estabelece a passagem para a noção de tecnologia, sendo que, passa a haver uma convergência entre conhecimentos científicos e a resolução de problemas práticos. Neste sentido a tecnologia apoia-se na técnica para a sua praticabilidade, mas distingue-se dela pela exigência da aplicação de princípios e conhecimentos científicos.
De forma conclusiva a tecnologia é entendida como a aplicação dos princípios científicos básicos na resolução de problemas concretos. Assim, a tecnologia Educativa (campo disciplinar que remonta os anos 60) pode definir-se como a aplicação dos princípios científicos básicos na resolução de problemas educativos. Esta surge como ponte entre a Educação e a tecnologia, como via de acesso do processo geral de tecnização da vida – o homem deve ser educado para actuar conscientemente num ambiente tecnológico.
Hoje, existe uma estrutura mental tecnológica porque estamos mergulhados num contexto tecnológico e esta estrutura tecnológica não se reduz apenas ao mero suporte, mas representa uma evolução mental.
É pois com base nestes fundamentos que o respectivo artigo ilustra a evolução do conceito, que passamos agora a explorar de forma mais detalhada:

O primeiro momento conceptual é caracterizado pelo aparecimento dos meios audiovisuais que se desenvolveram progressivamente (fim da segunda guerra mundial) e que se caracteriza, sobretudo, pela introdução de uma linguagem icónica como alternativa à linguagem verbal[1]. Esta aquisição precipitada, sem se atender às necessidades da produção de documentos pedagogicamente adequados e à formação dos professores para a sua utilização técnica e didáctica, trouxe problemas.

Assim, as técnicas audiovisuais creditam o seu valor para uma apresentação massiva de informação icónica e os aparelhos são considerados como uma ajuda ao ensino que facilitam e ampliam os processos de instrução. Com eles pretende-se e procura-se modernizar a aulas.

Em meados dos anos 60, em estreita relação comas investigações na Psicologia da Aprendizagem e na Comunicação começou-se a descobrir que os meios audiovisuais (e a sua técnica comunicativa implícita) modificam substancialmente o processo de ensi-aprendizagem em geral e a relação professor-aluno em particular. Este facto pavimentou o caminho para um novo conceito de Tecnologia Educativa .


Desta forma passa-se das ajudas aos métodos e dos aparelhos aos recursos; já não se procura o ensino pelo professor mas a aprendizagem pelo aluno. As técnicas isoladas agrupam-se numa tecnologia e o objectivo final é optimizar os processos na sala de aula. Este momento está marcado pelo ensino programado e pelo ensino à distância.

A terceira fase é profundamente marcada pela abordagem sistémica[2], na medida em que as situações de aprendizagem passam a ser encaradas dentro do sistema educativo, como parte integrante do macrosistema social, havendo uma reciprocidade de influência. Neste sentido a abordagem sistémica permite perspectivar a Tecnologia Educativa como um processo complexo caracterizado pela interacção homem-máquina (ou seja, onde estão implicados homens e recursos), alicerçado numa engenharia de sistemas que se traduz numa organização eficiente e na existência de métodos com vista à inovação. Estes elementos permitem uma abordagem na qual se analisa os problemas, se gere, implanta e avalia as suas soluções com vista à mudança educativa.

Nesta dimensão, a Educação é abordada sistemicamente por ser um fenómeno relacional, orientado para a mudança significativa de comportamento (Blanco & Silva, 1989).

Esta proposta pretende integrar as etapas anteriores, enfatizado a competência do aprender a aprender como aspecto primordial numa sociedade onde o imprevisto impera e necessita saber ser gerido. Neste sentido, a realidade virtual configura-se como um espaço potenciador de construção de conhecimento, numa perspectiva aberta e partilhada.
Tendo chegado até aqui, torna-se oportuno, senão fundamental reflectir sobre de que forma a tecnologia no contexto educacional, reclama a emergência de novas competências dos professores e abre espaço para novos papéis profissionais.
O que se tem vindo a verificar é que ao se partir de uma lógica economicista no âmbito da educação, em que o currículo é prescrito pelas administrações centrais, sem atender aos agentes educativos, se traduz num abismo marcante, entre o que a sociedade actual realmente necessita e o que dai resulta.
A possibilidade de criação de comunidades de pares onde a real partilha e efectiva comunicação, em ambientes equipados proporcionando suporte profissional especializado, em constante actualização, tornaria viável e motivador a construção de alicerces que, num futuro - pretendamos próximo, preconizem uma mudança educativa.




Bibliografia


OLIVEIRA, Lia Raquel (2004), A comunicação educativa em ambientes virtuais: um modelo de design de dispositivos para o ensino -aprendizagem na universidade.

BLANCO, S. & SILVA, B.(1989), Tecnologia Educativa
[1] A primeira referência específica no campo formativo é os cursos projectados para militares, apoiados em instrumentos audiovisuais (anos 40).
[2] Os objectivos da abordagem sistémica são a análise dos problemas relacionados com o ensino e com a aprendizagem e, por outro, a elaboração, implantação e avaliação das soluções desses problemas, através do desenvolvimento e exploração dos recursos educativos.

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